sábado, 9 de agosto de 2014

Síndrome pré-viagem


                 Hoje obriguei-me a sair para ver o mundo fora da minha casa. Peguei no carro e fui dar uma volta pela cidade de Lisboa. Gosto tanto. Sobretudo ao fim da tarde. Como compreendo todos os artistas que a pintaram, que a escreveram, que a cantaram, que nela se perderam, que nela se acharam. Sobretudo ao fim da tarde, como os compreendo.
Maldita ansiedade pré-viagem que me fazia perder este belo passeio. Bendito o conhecimento que de mim próprio possuo, para nestas alturas me contrariar. Porque é que eu não oiço a minha mãe quando apela á segurança do seu filho? Porque é que não sou como um turista normal, que vai para sítios normais, com uma organização de viagem normal, com a segurança digna da nossa mãe?! Porque não gosto, ou talvez não tivesse aprendido. Ou talvez assim, não realizasse as experiências necessárias á vida. Seja como for é esta a maneira de que gosto de viajar. Depois  tenho de arcar com os efeitos secundários das minhas escolhas. Ainda "ontem" decidi e daqui a poucos dias já estou a viajar. Nos dias que antecedem a partida uma ansiedade toma sempre conta de mim. Estou nesses dias. Estava no sofá, em frente à televisão, sem ver o que estava a dar,  quando me dei conta que todos os meus pensamentos estavam ocupados com o tema "viagem". E como nada tenho marcado, para além do avião, esses pensamentos eram sempre de preocupação. Vá que ás vezes fossem de entusiasmo. Mas em número menor. O ser humano reage sempre mal ao desconhecido, ao que não controla. Mas essa é uma das razões por que faço estas viagens. Para desafiar esse "reagir mal". Porque apesar de acharmos que temos o controle sobre as nossas vidas, isso é uma enorme e disparatada ilusão. A vida é um lugar desconhecido, minuto a minuto. E a cada um desses minutos caminhamos por ela, conhecendo mais um pedacinho. Agora, se ficarmos no sofá, em frente ao televisor, fazendo conjeturas bacocas, não damos um passo. E a vida é para ser vivida, nesse minuto a minuto.
Por isso agarrei em mim, meti-me no carro e fui viver. Pela minha cidade de Lisboa. 
E a viagem continuou. Mesmo antes de ter começado. 

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