segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Preparativos

Já me tinha esquecido disto.
Hoje de manhã telefonei para a minha operadora do telemóvel, para resolver umas questões relacionadas com a viagem. A determinada altura resolvi perguntar se tinham algum acordo com alguma operadora de lá. Que não! Que ainda não tinham!  De repente lembrei-me que fora assim da ultima vez, embora pensasse que o problema já estava resolvido. No meio dos meus dias onde a tecnologia avança mais do que o pensamento humano, eu vou para um lugar onde não tenho telefone! É oficial: vou mesmo para longe. Bem longe. Valha-me a grande acessibilidade ao wi-fi em Kathmandu, sempre gratuito, para poder dar uso às várias aplicações do meu smart phone e assim comunicar com os meus. Por outro lado a impossibilidade de ser contactado ganha contornos muito apetecidos. 
Este foi um dos primeiros preparativos para a partida. Faltam menos de dois dias para a mesma. Mas eu sempre detestei organizar coisas com antecedência. É quase uma superstição. Não sou daqueles que preparam as viagens muito tempo antes e que ficam a antecipar os acontecimentos. No fio da navalha tem muito mais interesse para o viajante que se preze. Isto não quer dizer que não me prepare a outro nível. Gosto sempre de me informar sobre tudo o que é importante acerca do sítio para onde vou, para estar minimamente preparado e não ter surpresas. Questões como câmbios, diferença horária, aspetos culturais, o local específico para onde me desloco são alguns dos que dou importância. Para isso leio atentamente alguns guias de viagem ou faço pesquisa na internet. Mas entrar em ação só mesmo em cima do acontecimento. Assim, os últimos dias antes da partida são diretamente proporcionais á corrida para apanhar o avião. O ultimo momento do "ritual" culmina na feitura da mala. Atiro, literalmente, as coisas que acho serem estritamente necessárias pois a palavra de ordem é: pack light. Levo apenas três ou quatro mudas de roupa, esperando os serviços de lavandaria dos locais por onde passo. Claro que ás vezes tenho surpresas. Uma vez, numa terra pequena na China tive de lavar a minha roupa no hotel e comprar a minha toalha, pois não havia. Tenho-a até hoje, debruada em caracteres chineses incompreensíveis, provavelmente a dizer "feito na China", no meio dos meus panos de cozinha. Que "cool"!
Essêncial é mesmo levar alguns medicamentos pois, muitas vezes, nos lugares mais remotos são difíceis de encontrar. No caso do Nepal não me posso esquecer que é a altura das monções e isso pode potenciar alguns riscos para a saúde. Além disso, os nossos organismos em meio estranho, comportam-se por vezes como autênticos extraterrestres. Por isso fui à farmácia para comprar alguns indispensáveis. A saber: antibiótico, antidiarreico, analgésicos, anti-mosquitos, e pouco mais. Estava eu a falar com a doutora farmacêutica, dizendo-lhe, sem especificar, que ia para a Ásia, ao que ela me diz:
-"Um sítio que gostava muito de ir era ao Nepal".
-"Tem graça, é exatamente para onde vou"- respondi.
A partir daí ficámos bastante tempo a falar. Fiquei a saber que a doutora, por baixo daquele ar institucional de quem dirige uma farmácia, gostava de fazer "caminhadas pelas montanhas do Nepal", nas palavras dela. Estas caminhadas são aquilo que em linguagem internacional do viajante se designam por trekking. De repente a farmácia, a doutora, o cliente, desapareceram e ficaram dois seres humanos, viajantes, a conversar simpaticamente. No fim despediu-se com um sorriso aberto. Eu devolvi-lhe a afabilidade. 
Faltam menos de dois dias para a partida. E a viagem já começou!

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