quarta-feira, 20 de agosto de 2014

As grutas sagradas

Ás 19.30 recebi uma mensagem do meu amigo monge Sangpo. Dizia: "Hello, tomarrow 7:30 at Shechen guest house for breakfast"...
Levantei-me cedo é fui tomar o pequeno almoço com ele. Íamos visitar um lugar bastante especial, a caverna onde Guru Rimpoché meditou durante bastante tempo. Guru Rimpoché é um santo bastante reverenciado, visto como um segundo Buda, responsável pela introdução do budismo no Tibete, a convite do rei Trisong Detsen. É dito que o seu aparecimento foi profetizado pelo Buda.
Assim, lá íamos nós ver a caverna onde este personagem histórico meditou antes de ter ido para o Tibete. 
Quando nos levantámos da mesa do pequeno almoço para partirmos, notei a presença de um objecto que me provocava alguma ansiedade: o capacete da mota! Fomos de mota. Só que desta vez, não era um passeio pequeno. O local onde íamos ficava a mais de uma hora de caminho. Por isso atravessámos Kathmandu, no meio de um intenso transito. Confesso que desta vez não estava a achar muita piada. O desporto radical que me provocara risos, dava agora lugar a uma sensação de inconsciência. Aquele trânsito todo e um pendura sem capacete: é um perigo desnecessário e nada de se gabar. Mas o que é certo é que em qualquer mota ( e se eram muitas!) não havia nunca nenhum segundo passageiro com capacete. Só o condutor. Dá ideia que só é obrigatório para o condutor. Por isso como em Roma sê romano, eu decidi ser nepalês no Nepal. E segui, confiante na boa condução do monge, e nas bênçãos do local sagrado para onde nos dirigíamos. Bom, tentei não pensar muito que estava em cima do velocípede. Quase como pensar nas minhas coisas favoritas, como os miúdos da música no coração cantavam. Chegamos ao dito lugar, que ficava no meio das montanhas. Sãos e salvos. O ar fresco, o cheiro da natureza, só por si eram uma benção. Sangpo disse-me que aquele era um dia especial no calendário, justificando-se assim o número de pessoas que prestavam as suas homenagens ao lugar sagrado. Ele parecia conhecê-los a quase todos. Até um dos monges que estava lá em retiro era seu primo. Depois de subirmos as inúmeras escadas até á caverna, conversamos um pouco com o primo, ou melhor, conversaram eles pois eu nada entendia o seu idioma. Mas a simpatia irradiava e isso era o bastante. Acompanhava tudo com um sorriso. 
Após um convite do primo, Sangpo perguntou-me se queria almoçar com os monges no mosteiro. Assim fizemos.
Confesso que não comi muito, com medo que o meu organismo europeu me pregasse alguma partida. Mas comi o necessário, evitando os crus, saladas ou alguma coisa que não sabia o que era. O que comi estava delicioso, , muito bem condimentado. 
O resto da jornada, para um budista como eu, foi o silêncio, a meditação, o estar presente naquele sítio, querendo ser sempre mais cientista desta coisa a que se convencionou chamar vida. 
Visitámos ainda outra caverna onde, segundo o meu amigo contou, se deu o encontro entre o Guru Rimpoché e um ministro do Tibete quando este lhe formalizou o pedido para ele ir ensinar àquele país. Depois descemos a montanha de mota, entramos na confusão de Kathmandu, com um á vontade da minha parte que me começava a preocupar. Parece que toda a vida tinha feito aquilo. Sem receios!
Sangpo deixou-me no hotel e sorri-lhe agradecido na despedida. Ele devolveu o seu sorriso, bastante rasgado. Disse-me: "vai olhando para as mensagens, que um destes próximos dias vamos dar um grande passeio. Não é amanhã!"
E com esta incerteza meio certa, continuando sempre a sorrir, pôs o capacete e partiu na sua mota. 
Amanhã não era. Pelo menos sabia disso. Mas pouco mais. De facto, para quê saber mais. Nada na vida é certo, nem controlável. A seu tempo, logo se vê. 
A gruta onde Guru Rimpoché meditou. Na entrada pode ver-se uma mão gravada na pedra, atribuída ao Rimpoché. De facto a história da sua vida, escrita pela sua esposa, é cheia de feitos extraordinários.
No almoço com o meu amigo Sangpo, á direita. No meio uma monja, que neste dia fazia o seu aniversário.
Na próxima foto o local da "reunião" entre Guru Rimpoché e o ministro tibetano. Sangpo contou-me que diz a lenda que o Rimpoché aceitou mas disse ao ministro para ir andando á sua frente. Quando o ministro chegou ao Tibete, Guru Rimpoché já lá estava. Começava assim uma série de feitos extraordinários de Guru Rimpoché no país

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