sábado, 16 de agosto de 2014

Aventura

Da ultima vez que estive em Kathmandu, no dia da chegada, fomos informados que um grande mestre, que ainda tive a fortuna de conhecer, tinha iniciado a sua viagem final. Era um mestre amplamente conceituado e durante a estadia pude testemunhar os vários rituais do seu falecimento, uma coisa grandiosa para um forasteiro de terras longínquas como eu. Sem entrar em detalhes neste momento, apenas digo que logo me impressionou como um mestre tibetano, com uma idade bastante avançada, tivesse deixado instruções para a publicação da sua fotografia  após o início da sua morte. Digo início pois o processo da morte, segundo o budismo, é qualquer coisa como uma viagem, entre o estado da vida presente e a próxima reencarnação. Esta "viagem" é ainda mais especial quando se trata de um ser com a grandiosidade de Tenga Rimpoche. Aconselho a procurarem na internet, por este nome, para acompanharem aquilo de que vos falo. Se tiverem interesse, claro. 
Hoje quis voltar ao seu mosteiro e pensei que seria fácil fazê-lo, que toda a gente saberia onde ficava. Enganei-me. Mas como diz o velho ditado "quem tem boca vai a Roma", lá fui eu, fazendo uso do meu aparelho vocal. No hotel, o empregado nada sabia. Encontrei um monge que, apesar de não saber, procurou na internet ( bem mais astuto do que eu!). Confirmei os dados numa pequeníssima agência local de pequenos passeios e fui procurar um taxi, que é uma aventura por estes lados. Depois de discutir o preço ( que desceu quase para metade) e depois dos vários taxistas discutirem (á seria!) quem me levava, lá nós pusemos a caminho pelas ruas estreitas, esburacadas e com o trânsito mais caótico que se possa imaginar. Outra aventura!
 Cheguei ao local, que era apenas a "zona" do mosteiro, pois o condutor apenas sabia a referência e não onde ficava o mosteiro em si. Mais uma vez perguntei a um monge que, com uma enorme simpatia, me indicou o caminho. Cheguei por fim ao local pretendido. Grandioso! Uma senhora europeia, que pelo que percebi se encontrava a fazer voluntariado, indicou-me a melhor pessoa para perguntar onde estava o relicário do homem santo, Tenga Rimpoche. Em menos de nada estava na sua frente e aproveitei a oportunidade excelente para praticar a minha meditação. Algum tempo depois falei novamente com a senhora, ficando a saber que se chamava Natacha, perguntando-lhe qual seria a maneira de apanhar um taxi de volta. Disse-me que costumava apanhar o autocarro local. Depois de dadas as indicações despedi-me dela, do mosteiro e fiz-me ao caminho. Para chegar ao autocarro contei novamente com a ajuda de várias pessoas, a maior parte sem perceber inglês. Sobretudo a ajuda de um velhote prestável que andou bastante para me levar ao transporte. De autocarro só tinha o nome. Era uma carrinha, onde as pessoas, se amontoavam, entrando e saindo sempre que o carro parava. Não percebi se havia alguma lógica nas palavras, mas também não interessava. Outra aventura. Grande e divertida.
 Cheguei por fim ao destino, e paguei ao rapaz, uma versão de revisor. 
Já no hotel pensei como todas estas pessoas tinham sido fundamentais para eu realizar a viagem deste dia. Como eu estivera dependente de todas elas! Lembrou-me a verdade da interdependência das nossas vidas. Chamem-me simplista, lugar-comum, o que quiserem. Mas eu acredito que esta pequena aventura é uma metáfora da nossa vida. A vida acontece porque estamos ligados com todos, e tudo está ligado connosco. E se esta interdependência for promovida da melhor maneira, tudo corre muito melhor. Bastava uma das pessoas que encontrei ter tido uma ação menos boa e a minha aventura tinha corrido mal. Mas não. Tudo correu muitíssimo bem. Porque todos quiseram. É por isto que eu acredito que o mundo pode ser um lugar melhor. Ainda. 
Ah! As monções hoje deram umas pequenas tréguas e o sol brilhou quase o dia todo.

Um aspecto da parte principal do mosteiro, de seu nome Benchen Monastery
O meu "autocarro"
Todos ao molho e fé no Deus de cada um. Chamei-lhe: happy bus ride. 

Sem comentários:

Enviar um comentário